terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre a exposição de Andy Warhol na Pinacoteca de São Paulo


Andy Warhol é o papa do pop. Sua obra eleva o princípio da reprodutibilidade ao apogeu e o que resulta desse procedimento é a versão mais acabada da arte desprovida de aura, para empregar a terminologia de Benjamin. A princípio, tudo se passaria como se sua arte se limitasse a reproduzir a imagem chapada de estrelas do cinema, de personalidades políticas e de mercadorias cotidianas tornadas conhecidas e cultuadas em virtude da atuação intensiva da indústria cultural. Desse ponto de vista, Warhol nada mais teria a nos oferecer senão a duplicação do vazio luminoso em que já habitamos, reiterando, desse modo, o efeito perverso denunciado por Adorno como repetição do mesmo em meio à compulsão pela novidade. No entanto, talvez suas obras magníficas não estejam desprovidas de peculiar ambiguidade crítica, pois também parecem denunciar o esvaziamento de sentido que acompanha o processo de conversão dos indivíduos em objetos de culto. Será que Warhol, em vez de promover a abolição da dimensão crítica da arte, não a suscita e estimula exatamente ao exacerbar a repetição de suas superfícies coloridas? Segue nessa direção o interessante ensaio de Paulo Pasta, publicado recentemente na FSP. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0204201022.htm

5 comentários:

  1. Andre e Rita,muito legal o blog. vera

    ResponderExcluir
  2. Mestres André e Rita, olás!
    Parabéns pela iniciativa e pelo conteúdo do Blog. Não sei como isto acontece entre filósofos e educadores, mas, para o povo da Comunicação, participar ativamente da Internet é não só objeto de investigação acadêmica, mas também possível ferramenta profissional — existem os web jornalistas, agências de publicidade voltadas exclusivamente para Internet, enfim, é um caminho sem volta. Já há alguns anos participo de comunidades, blogs, fóruns diversos (de música erudita a comunidades de mochileiros...) e, posso dizer que a experiência tem sido muito boa. Aliás, como os alunos da Comunicação participam em massa da web, muitas vezes este espaço tem sido uma saudável extensão da sala de aula – tanto para mim quanto para diversos professores colegas que conheço.

    André Tezza

    ResponderExcluir
  3. Sobre Warhol
    Há algo que me incomodou no texto do Paulo Pasta, na Folha: ele cita Argan para comentar o movimento italiano; mas omite as opiniões de Argan sobre Warhol – seria uma malandragem? Argan não foi propriamente um entusiasta de Warhol. Justamente para comentar as serigrafias da Marylin, Argan termina dizendo, em “Arte Moderna”, que este é o tipo de transgressão prevista e autorizada pelo sistema — parece um diagnóstico típico do Adorno, não? Creio que, neste ponto, talvez Argan esteja datado. Para um comunista histórico, que chegou a ser prefeito de Roma pelo PCI, uma afirmação dessas, na época da escritura da obra (anos 70), ainda fazia sentido, porque, de fato, existia uma arte “não autorizada”. Hoje, sem um projeto alternativo de fôlego para a sociedade de consumo, aparentemente não há mais qualquer receio: tudo está autorizado, porque supostamente não há ameaça alguma. Mas, um problema, se Argan estiver datado, talvez o próprio Warhol esteja datado – será que, realmente, uma exposição como esta, nos dias de hoje, pode trazer algum “terror” frente ao mundo das mercadorias? Honestamente, tendo a pensar que não. Mas aí entra também um lado ranzinza meu: tendo a desconfiar da arte com projetos de contestação muito evidentes. É fácil ela ficar obsoleta – basta o sentido da contestação ficar obsoleto. Sim, de fato, o desespero frente ao American Way of Life é o grande tema da melhor arte norte-americana, mas me parece que os artistas que melhor a retrataram fizeram algo que estava além do dia-a-dia, algo mais próximo de uma condição atemporal. Um texto de Arthur Miller ou Philip Roth, um quadro de Hopper ou Pollock, para mim, estão além da simples crítica da América — há um sentido transcendente de desespero e solidão. Não consigo me sensibilizar do mesmo modo com Warhol – mas devo confessar que não sou especialista nesta praia, é uma mera impressão subjetiva.

    André Tezza

    ResponderExcluir
  4. André, muito obrigado pelo incentivo e pelos comentários tão precisos e certeiros. Este blog é e não é uma extensão da sala de aula: não é, pois aqui o ritmo e a linguagem são outros; mas também é, sim, uma tal extensão, na medida em que não há como deixar de lado o fato de que sou professor... As hesitações devem-se a preconceitos meus e à inexperiência no trato da ferramenta. Acho que ela ainda não é tão popular entre os filósofos da terrinha. De todo modo, foi bom enfrentar o desconhecimento e o preconceito.
    Quanto ao Warhol, o comentário sobre Argan é instigante e gostaria de saber o que o Paulo Pasta diria a respeito! Creio, como você, que na crítica a Warhol Argan parece datado. O que, por outro lado, não me parece ser o caso de Warhol, justamente pelo fato de que ele não propôs uma arte 'engajada' em sentido estrito. É isto justamente que permite encontrar o terror ali onde ele não se manifesta de maneira expressa. Não creio que a crítica à obsolescência da cultura tenha se tornado, ela própria, obsoleta, e é nessa direção que o artigo do Paulo Pasta me parece acertar. De mais a mais, tampouco é uma interpretação inovadora. Mas ela chama a atenção para aquilo que numa assimilação ou recusa fáceis e imediatas da obra de Warhol tende a se obscurecer.

    ResponderExcluir
  5. André,

    Como disse, minha percepção de Warhol é mais subjetiva - uma leitura de primeira viagem. De qualquer modo, não nego a força dessas imagens para a cultura do nosso tempo - poucos artistas são tão emblemáticos para uma época quanto ele. Grande abraço,
    André Tezza

    ResponderExcluir