domingo, 12 de janeiro de 2014

Curtas: Blue Jasmine, de Woody Allen




Blue Jasmine não é uma comédia de Woody Allen sobre as atribulações de uma milionária nova iorquina que, do dia para a noite, perde o marido e todo o luxo que seu dinheiro podia comprar, tendo que se alojar de favor na casa da irmã pobre que mora na costa oeste dos Estados Unidos. Este é o enredo geral, mas o filme é bem mais complexo e possui diversos ângulos que se complementam: é um drama familiar, pois trata-se do re-encontro entre duas irmãs separadas pelo abismo de classe social; há viés do drama econômico, pois o filme reflete a amarga crise em que mergulhou a primeira economia mundial desde 2008; é também um drama moral sobre a vigarice do capitalismo financeiro neoliberal e sua bancarrota, bem como é um drama moral sobre a futilidade do luxo e da cultura das aparências; é ainda um drama sobre o enlouquecimento profundo em uma sociedade habituada à loucura funcional. Mas Blue Jasmine também pode ser visto como a crônica da reprodução em série de mulheres frágeis e dependentes da figura masculina, afetiva ou economicamente. Visto dessa perspectiva o filme é aterrador e ganha muita realidade, pois todos conhecemos (de perto ou de muito perto) mulheres que muito se assemelham à Jasmine representada à perfeição por Cate Blanchet: instáveis, incapazes de reconhecer seus méritos, incapazes de lutar por tal reconhecimento, prontas a se entregar ao primeiro aventureiro, vítimas de predadores eventuais...A cena final é das mais tristes e angustiantes que Allen já filmou, pois o destino de tais mulheres é (quase) sempre o abandono, a loucura, a perda de voz, a morte em vida.

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